quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Momento eu-lírico da semana:

Férias (Roberta Mattoso)

Hoje acordei de férias. Férias de tudo. Férias do relógio, férias de acordar cedo, férias do trabalho, férias do lazer. Férias!
Hoje acordei de férias pra academia, entrei de férias pra praia, pro cinema e pro teatro. Nada de manicure, nada de cabeleireiro, nada de pedicure, muito menos dietas sem sentido. Nada disso. Não me chame pra sair, não me chame pra passear, não me chame pra beber, muito menos pra fumar. Hoje não posso. Tenho compromisso. Compromisso com o nada, com o ninguém. Hoje não posso nem pra mim, quanto menos pra você...
Hoje acordei de férias do jornal diário, do blog, do MSN e do Orkut. Tô de férias pros amigos, pros telefonemas e pros torpedos mandados a todo instante. Chega. Não posso. Já falei, tô de férias.
Meu compromisso agora é com o ócio e ponto final. Tô de férias pra dizer que te amo, tô de férias pra dizer que te odeio, tô de férias pra discutir qualquer tipo de relação. Não me enche hoje, vai, eu já te disse.Tô de férias...
Não me venha com amores novos, não me venha com casos antigos, não me venha com nenhuma novidade. Não tô a fim. Não me dê motivos pra pensar, pra refletir, pra condenar ou absolver. Qualquer dia, menos hoje.
Hoje tô partindo rumo ao nada, ao zero, ao infinito. Tô seguindo meus instintos apenas: acordar dá fome e comer dá sono. Nada mais.
De férias eu deixo de ser eu pra ser simplesmente ninguém. Perco minha identidade, meus anseios, meus sentimentos e meus pavores. Dei férias pra tudo isso. Hoje sou apenas alguém sem nada por dentro e por fora. Hoje quero apenas minha cama, meu ventilador de teto, minha garrafa d’água do lado da mesinha e da minha capacidade de respirar e de sobreviver no meio de tanta monotonia e tédio.
A melhor parte disso tudo é saber que a vida continua com ou sem a minha presença e que o mundo continua girando, independente das minhas ações e reações. Bom mesmo é na hora em que fico deitada; minha cama tem a excelente mania de me afundar sob ela e me levar em direção ao nada, ao resto, ao fim, ao espaço desconhecido. Isso porque, como estou de férias, meu cérebro e meu coração resolveram viajar num cruzeiro rumo às Ilhas Gregas. De lá partem em direção ao Oriente. Enquanto isso eu fico aqui, de férias esperando por eles. Já sei que quando os dois voltarem, muitas histórias terão pra me contar.
Enquanto eles não vêm, é isso. Você já sabe. Só por hj, vai...

Um comentário:

Anônimo disse...

Amiga que profundo e lindo!!!! Como sempre seus textos me deixam emocionada.
Beijos