Depois de treze anos e seis discos como contratado de uma gravadora multinacional, (Paulinho) Moska se tornou um artista independente em 2004, quando seu disco “Tudo Novo de Novo” foi lançado pelo seu próprio selo, o Casulo. A partir desse momento Moska se diversificou em atividades aparentemente distintas, mas que em sua obra vêm se misturando e se completando, nos levando a mergulhar no universo poético que ele nos propõe com suas inspiradas canções e fotografias.
Seja na instigante série de autoretratos em objetos espelhados nos banheiros de hotéis que ilustravam o encarte do disco anterior, ou nos encontros com os compositores brasileiros na sua série de TV e rádio “ZOOMBIDO” ou ainda, nas exposições fotográficas que passou a fazer a partir desses trabalhos, o olhar de Moska vem se manifestando com beleza e diversidade, destacando-o no cenário brasileiro como um artista “multifacetado”.
Desde 2004 Moska não lança um disco de estúdio. Em 2007 o DVD “Mais Novo de Novo” trouxe, além do show ao vivo, uma espécie de filme/documentário/ficção que contava um pouco sobre o processo criativo das canções inspiradas nos tais autoretratos nos banheiros.
Seu novo projeto se chama MUITO POUCO. São dois discos (MUITO e POUCO) com nove canções cada um. Antes de escutá-los, vale à pena dar uma conferida no encarte porque mais uma vez as linguagens estão amalgamadas…jogos de palavras e imagens expressivas se compõem para se tornarem também uma espécie de “cinema”. Musica lmente, MUITO POUCO é um projeto de belas canções, com melodias que grudam nos ouvidos, tocadas e cantadas com uma rara honestidade.
MUITO é um disco mais cheio, com bateria em todas as faixas, som de banda tocando… mas longe de ser pesado. As letras são mais “ativas” ou “extrovertidas”, como na canção já gravada por Maria Rita que dá nome ao projeto (Muito pra mim é tão pouco / e pouco é um pouco demais / Viver tá me deixando louco / não sei mais do que sou capaz / Gritando pra não ficar rouco / em guerra lutando por paz / Muito pra mim é tão pouco / e pouco eu não quero mais). Nesse “lado A” de MUITO POUCO escutamos vozes e arranjos mais viscerais, mas há também espaço para baladas: “Ainda” (gravada com os músicos do Bajofondo Tango Club, grupo argentino/uruguayo de tango eletrônico que brilha também no instrumental da canção “Muito Pouco”) e “Quantas Vidas Você Tem?”, que foi trilha da novela “A Favorita” da Rede Globo. Já “Soneto do Teu Corpo”, parceria de Moska e Leoni gravada por Mart’nália e também por Leoni ganha agora uma versão mais vigorosa, com direito a “scratch” feito pelo uruguayo Luciano Supervielle. Como curiosidade, o disco MUITO começa com uma vibrante canção sessentista chamada “Devagar, divagar ou de vagar?” (E se ainda não cheguei / é porque gosto de parar / em cada esquina / devagar / pelo caminho que me leva / até você me encontrar) e termina com outra chamada “Antes de Começar”. O MUITO começa devagar e termina antes de começar. Poesia?
POUCO é um disco mais vazio, sem bateria (às vezes com alguma percussão), som de casa… mais leve. As letras são mais “passivas” ou “introvertidas”, como na belíssima canção já gravada por Maria Bethania “Saudade”, parceria de Moska e Chico Cesar - que canta e toca com ele no disco - acompanhados do delicado acordeon de Cezinha Silveira (Saudade / A lua brilha na lagoa / Saudade / A luz que sobra da pessoa / Saudade igual farol / Engana o mar / imita o sol / Saudade / Sal e dor que o vento traz). Nesse “Lado B” de MUITO POUCO escutamos vozes e arranjos mais intimistas, mas também há espaço para o vigor de “Sinto Encanto”, parceria de Moska e Zelia Duncan já gravada por ZD e que traz Maria Gadú no côro de vozes. Zelia é coautora de mais duas faixas: “Não” (em que escutamos o delicioso vibrafone jazzy de Arthur Dutra) e “O Tom do Amor”. A voz de Gadú aparece também em “Oh, My Love, My Love”, canção em inglês do argentino/ americano Kevin Johansen, que canta e toca violão nessa mesma canção e na solar “Waiting for the Sun to Shine”, parceria tri-língue (português, espanhol e inglês) dele com Moska. Outra participação especialíssima é a do compositor e multinstrumentista argentino Pedro Aznar (ex-integrante da lendária banda de rock “Serú Girán” com Charlie Garcia e do “PatMetheny Group”) tocando baixo e piano no blues “Provavelmente Você” e cantando e tocando violão barítono em “Nuvem”, versão de Moska para a etérea “Nube”, do chileno Nano Stern. Como curiosidade, o POUCO começa com uma canção minimalista chamada “Semicoisas”, em que escutamos um “piano-toy” de criança anunciando a leveza do segundo disco (Nas semicoisas das coisas / Outras versões da verdade / Do outro lado do espelho/ Outro dobro metade) e termina com a já citada “Saudade”.
Em resumo, em MUITO POUCO temos em mãos muitas vozes e muitos violões de Moska acompanhados de seus convidados executando suas singulares canções. Ao fim da audição ficamos com a sensação de que o MUITO é um pouco mais e o POUCO é muito menos. Entre um e outro está o fio em que Moska se equilibra. E nos oferece, num lindo salto mortal, sua arte vital.
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