segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Falando de livro: "Leite Derramado"


Lembro como se fosse hoje: meu pai com o livro "Estorvo" debaixo do braço e colocando na estante. A capa, que dava a impressão de estar se olhando através de um olho mágico, me chamou logo a atenção. Mas bastou folhear algumas páginas para fazer com que o meu fascínio por Chico Buarque de Hollanda se restringisse apenas ao seu acervo musical. Eu, adolescente, achei o livro um uó mesmo. Tudo bem que naquela época também achei a Agatha Christie um uó...
Na verdade meu mundo literário perfeito incluía as obras de José de Alencar, Machado de Assis, alguns do Jorge Amado e as poesias do Romantismo. E a obra de Chico, misturada aos clássicos, berrava demais para o meu então limitado gosto literário. Minhas papilas literárias estavam acostumadas com uma linha na qual Chico não pertencia; pelo menos não para mim na adolescência...
Os anos passaram e continuei fanática pela obra musical do compositor. Quanto à literatura, deixei-a de lado. Benjamim, Budapeste, foram passando en passant mesmo. Não os li e ponto.
Só que este mês recebi a possibilidade de escolher dois livros: um era o Leite Derramado; o outro, Quase Memória.
Fiquei com a primeira opção. Eu que na minha adolescência tive uma aversão ao Estorvo, resolvi testar novamente minhas papilas literárias e parti para dentro do livro. E me deliciei!!! Li o livro em menos de três horas, como se devorasse um bolo de chocolate não comido durante anos. Chico com certeza tem evoluído no ramo, mas também me vejo como um ser que evoluiu durante os anos que se passaram. Leite Derramado é lindo, nos prende e faz a gente refletir, como todas as músicas do artista. Chico nos empurra para dentro da obra, como se assistíssemos a história sentados na poltrona ao lado do personagem principal.
Depois de terminado o livro, resolvi dar uma chance e ler os livros ainda não lidos. Quem sabe até reler o estorvo da minha adolescência?rsrs. Só sei que me levantei da poltrona diferente e mais sensível ao mundo que me rodeia. E é por essa façanha que Chico exerce sobre mim essa admiração que nasceu muito antes de olhar naquela antiga estante um livro com capa esquisita...

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